segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A menina e o circo - 2ª parte.

Uma parábola que Branca de Neve leu no livro do Verão – dia 10 de Janeiro de 2012.

O caixeiro e o rato.

Era uma vez, num pequeno vilarejo a margem da estrada, vivia um rato cuja única motivação era conhecer a maior cidade da região. No começo do verão, um caixeiro viajante, que reabastecera seu estoque por ali, estava se preparando para levar tudo aquilo para a tal cidade onde venderia tudo e compraria coisas novas. Enquanto selava o cavalo ele viu o pequeno rato subindo sorrateiramente numa das bolsas de ferramentas no fundo de sua carroça.

— Ei, seu rato! O que pensa que está fazendo? — Gritou o caixeiro.

— Eu vou pegar carona com você para a cidade grande! Pois sei muito bem que vai pra lá! — Chiou o minúsculo, mas valente, rato.

— E o que espera encontrar lá, ratinho do campo? — Perguntou o intrigado comerciante.


— O sentido do universo. A verdade sobre tudo. Na cidade, com toda a certeza, terá algo ou alguém que justifique minha jornada, e eu pretendo encontrar. — Respondeu o rato com os olhos brilhando de antecipação.

O caixeiro ajeitou as sacas de grãos na carroça, balançando a cabeça negativamente. Conhecia o caminho e a cidade, e sabia que não era lugar para um ratinho ingênuo como aquele. Seria muito difícil reencontrar o caminho para casa depois de se perder em um lugar estranho como aquele. Sem falar nos ratos de lá, esse sim era um problema que o ratinho não poderia resolver.

— A jornada para a cidade é longa. Essa tal resposta vale deixar seus amigos e sua família aqui no interior? — O caixeiro tentava desmotivar o rato, enquanto procurava algo especifico em suas muitas mochilas.

— Ela vale tudo! Tanto que sou capaz de sofrer e morrer por ela, viajante! Eu farei qualquer coisa para saber a resposta de todas as perguntas! — Respondeu o rato, com o peito estufado.

— Bem... — Disse o comerciante um tanto surpreso. — Eu não posso afirmar que encontrará a resposta lá, mas se tem tanta certeza disso será bem vindo ao viajar comigo. Se conseguir cuidar de si mesmo.

O camundongo ajeitou-se precariamente na caixa de ferramentas enquanto o caixeiro revirava dentro dela, e finalmente encontrando o que procurava de baixo do rato. Ele pegou o brinquedo esquecido ali, um rato de brinquedo de dar corda, muito parecido com o valente ratinho de verdade. Deu toda a corda possível e soltou-o em direção as casas do vilarejo.

— Eu ajudarei você nessa viagem de todas as maneiras que for possível! — Declarou o rato, impaciente para viajar logo.

— Então, façamos um acordo... — Disse o caixeiro. — Eu dirijo a carroça, nos levo a grande cidade, e conseguirei comida ao longo do caminho, se você limpar os cascos do cavalo, certificar-se que os pinos dos eixos das rodas estão seguros nos lugares e engraçar minha sela vez por outra. O que diz?

— Farei isso e muito mais! — Prometeu o rato ansioso e foi direto ao trabalho.

Quando o camundongo terminou, e o caixeiro observara-o o tempo todo, o trabalho estava impecável. Tudo perfeito para a viagem. O negociante estava muito feliz pelo acordo que fizeram e começava a se afeiçoar ao rato.

— Você tem muito talento, ratinho! Eu fico feliz em ter você comigo na jornada até a grande cidade, será bem melhor que viajar sozinho. — Dizendo isso, ele montou no cavalo e estalou as rédeas. O cavalo começou lentamente a trotar, e a carroça deu um belo solavanco para a frente.

O rato nunca estivera em uma carroça antes e logo foi tomado pela sensação do vento soprando por entre seus pelos, trazendo o perfume de flores que ele ainda não conhecia. Ele escalou até o topo da caixa de ferramentas, bem próximo da beira da carroça e ficou nas pontinhas dos pequenos pés, nariz contra o vento. Justo nesse momento, a carroça passou por uma lombada na estrada.

O ratinho, abalado pelo choque e sacolejo, caiu direto sobre uma poça que estava no caminho da roda. O caixeiro, ouvindo os chiados amedrontados do rato, puxou as rédeas do cavalo bem em cima da hora.

— O que você está fazendo ai nessa poça, rato doido? — O caixeiro gritou.

— Você balançou a carroça e eu caí na lama. Você deveria ser mais cuidadoso! — Berrou o ensopado e bravo rato do campo.

— Você não preferia estar de volta a segurança do vilarejo? — Disse o comerciante.

— Realmente não! Mas eu preferia estar segurando essas rédeas a deixar que você continue me jogando nas poças de lama dessa maneira! — Respondeu o irritado rato.

— Então tente, rato atrevido, e veja como se sai. — O caixeiro foi para a carroça e apoiou a cabeça em uma saca de farinha enquanto o rato subiu para a sela do cavalo.

O bichinho pegou as rédeas e puxou-as, sem nenhum efeito. Puxou-as com toda sua força, dando até pulinhos para trás. O cavalo, não sentindo nem de leve os puxões, continuou tranquilamente a comer sua grama.

— Você bem que podia puxar essas rédeas para que possamos ao menos começar? — Disse finalmente o rato para o caixeiro, que puxando as rédeas fez que os dois voltassem para o caminho.

— A estrada para a cidade é muito mais longa e difícil do que eu imaginava, e eu estou começando a sentir saudades da minha família. —Disse o rato depois de meio dia de viagem.

— A trilha é muito mais longa e difícil do que pressupõe até mesmo agora, rato, e você sentira ainda mais saudades de muitas coisas e se cansará muito mais. A resposta ainda vale esse preço? — O caixeiro disse sorrindo, sentindo-se muito sábio.

— Sim! Eu não abandonaria por todas as famílias e amigos do mundo. — O rato respondeu sem hesitação.

Algumas horas mais tarde, eles chegaram até um morro onde a trilha descia rapidamente até um vale rochoso. Quando começaram a descê-lo, o cavalo e a carroça pegaram velocidade. O ratinho segurou as rédeas com firmeza, mais e mais firmeza. Logo, o cavalo e a carroça estavam fazendo as curvas na trilha íngreme rápido demais para o gosto do rato.

Ele puxava as rédeas, mas o cavalo continuou a correr tão rápido quanto antes. Desesperando-se ele se jogava para trás, agarrado as rédeas, agora a carroça balançava precariamente atrás do cavalo. O caixeiro que estava dormindo, acordou e subiu até a frente da carroça. Pegando as rédeas e o rato, colocando o amiguinho de volta a caixa de ferramentas e fazendo com que o cavalo diminuísse a velocidade. Bem a tempo, antes que se chocasse com uma grande pedra na estrada que certamente iria fazer a carroça e seus ocupantes capotarem.

— Rato doido, você não viu o morro íngreme e as tantas pedras no caminho? — O caixeiro perguntou irritado.

— Sim, mas o cavalo não obedecia aos meus comandos. — O rato respondeu.

— Não é culpa do cavalo, mas sua, pois não tinha a habilidade para controlá-lo. Eu vou ficar com as rédeas, e você vai aprender a guiar um cavalo me observando. — Disse o caixeiro.

E assim fez o viajante. Quanto ao pequeno rato espertalhão, durante o resto do dia, e o resto da jornada, ele observou cuidadosamente o caixeiro, prestou atenção no caminho para a grande cidade. Percebera que a resposta não estava no destino, no resultado, mas sim no caminho, na experiência. E nunca mais reclamou sobre quem segurava as rédeas.

O que está escrito nas costas da jaqueta que Miss Veludo usava – dia 11 de Janeiro de 2012.

Compense-me.
Anime-me.
Complique-me.
Eleve-me.

Do diário de kenzi – Dia 11 de Janeiro de 2012.

Diário,

Fui arrancada da minha cama antes do sol nascer. Os policiais me trouxeram quase arrastada para esse orfanato velho. Eu gritava para minha avó me ajudar, mas ela não fez nada... só ficou lá, na porta, desaparecendo.

Acho que ela não existe.

Todas as crianças aqui tem os olhos azuis. As brancas, as negras e as orientais. Não um azul de olho, mas um azul de... um azul de medo e sonho. Elas me bateram, me empurraram, me xingaram e cuspiram em mim. Me sujaram com esse azul maligno, esse azul que faz mal pra minha alma. Essa coisa tá entrando no meu sangue... Ele quer que eu fique azul como a porta. Que eu me torne a porta.

Tem coisas que viviam nos meus sonhos que agora estão surgindo fora dele, estão saindo de mim. São coisas ruins, coisas que querem fazer o mal. EU NÃO QUERO SER A PORTA PARA ESSAS COISAS PASSAREM! Eu vou tirar o azul de dentro de mim!

Até nunca mais. Foi um prazer escrever em você.

Das anotações de Branca de neve – dia 11 de Janeiro de 2012.

... O Trickster não entrou no jogo. Não se sentiu ameaçado por minha investigação e nem pareceu disposto a ajudar. Temo que ele não seja exclusivamente o herói que muitos creem que seja. Existe um motivo para Helena não ir aquele bar a final de contas. Agora só me resta esperar que os novatos consigam...

... Gepeto me explicou qual é a conexão entre os sonhos e a sebe. É algo místico e metafisico demais para mim. De qualquer forma parece ser esse o ponto de ebulição no que quer que tenha acontecido no passado que repercute hoje na fragilidade daquele lote. Os oniromantes do inverno não me parecem confiáveis até que eu entenda os intuitos de Helena, e o do Verão é ingênuo demais para minha linha de ação. Preciso encontrar que ensinou-lhe os segredos do sonho, e pelo que tudo indica só pode ser...

... Sem notícias de Bernard. Espero que esteja tudo bem com ele. Se ele não retornar até amanha a noite irei pessoalmente confrontar Helena e questiona-la sobre essa ordem estranha. Não deveria colocar um membro do Inverno em risco simplesmente para se vingar do...

Das conclusões sobre as pessoas com quem o Trovejante conversou – 11 de Janeiro de 2012.

Cris – Ainda na mesma, algum plano furado para se tornar o rei de tudo.
Arakroca – Não subestimar, ela parece estar fazendo o mesmo que eu em nome da primavera.
Adam – Ratinho de recados da Branca.
Lobo – ‘Cachorrinho’ da Branca.
Cachos – ‘Vagabunda’ da Branca.
O da ponte – Como alguém como ele sabe tanto sobre todo mundo? Preciso aprender o truque.
Anansi – Uma cega. Perdida em suas próprias intrigas. Ela não sabe o que quer.
Azul - Perdida. Envolvida mais que imagina nos planos primaverais.
Grod – Burro? Vai achando.
Bruxa – Medo. Ela sabe o que vem vindo.
Tina – Eu aposto na inocência. Mas se ela não quer se ajudar, por que eu iria?
Borboletinha – Cretina miserável. Será tão difícil assim abrir o bico? Ela possivelmente é quem sabe mais de tudo com que a primavera se envolve. E ela ainda tem muitos textos tanto do dia quanto da noite.
Gepeto – Eu sei o que ele fez, e cedo ou tarde vou ter de jogar essa merda no ventilador. Nem a irmandade vai conseguir segurar essa.
Incêndio – Ele vai ser um problema politico assim que o verão se restabelecer. Não dura na Primavera.
Vermillion - Suicida! Esse cara não vai viver muito pelo visto.
Freia – Tenho de admitir, ela é muito boa nisso.
Ferrugem – Como um cara que fica na dele por anos decide tentar ser rei da primavera? O pior, com essa atitude despretensiosa acho que ele é capaz.
Escorregadio – Defina espionagem. Se for a ideia de conseguir informações tidas como secretas sem ninguém saber, ele é o melhor. Não deixe-o se interessar por você, ou seus segredos vão por água a baixo.
Azaleia – Sério? Só isso? Ela não duraria uma semana.
Du – Esquentador de cadeira.

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