Todas as aranhas mais jovens ficaram caladas e se acomodaram
em um semicírculo para todas poderem olhar bem para a grande aranha já fraca
pela idade. Colocaram suas trouxinhas de teias no chão e arrumaram seus múltiplos
pares de óculos.
— Então, aranhinhas, o que sabemos até agora, vocês se
perguntam? — E a regente fez uma pausa dramática. — Sabemos que a Primavera
está nos distraindo de algo com seus jogos de quem mandará na próxima estação. Sabemos
que quem mandará é o velho Demônio da Beleza, o chifrudo com olhos purpuras. Sabemos
que o Verão está policiando clandestinamente a cidade, e que seu avermelhado
líder anda de colundria com a rainha do inverno.
— Mas, minha sabia aranha, não deveria o verão ser mais militar
que espião? Não seriam os invernais numerosos e capazes de vigiar tudo o que
tem de ser vigiado? — Perguntou uma aranha novata e curiosa.
— Claro, claro, jovenzinha. — E a aranha velha sorriu
compreensiva. — Mas o verão quer muito mostrar serviço, precisam parecer
fortes, organizados, eficientes e presentes. A imagem para eles é tudo no
momento, ou durante a primavera se tornarão ainda mais fragmentados e
desfalcados. Lembrem-se das primaveras anteriores e de como suas brigas e vociferações
espantaram os novatos. O machucado líder parece mais sensato, e levou muito
tempo até por juízo nos seus soldados. — Ela traçou um quadro na parede com
suas teias, e marcou três pontos para representar os três lideres que já havia
citado. — Sobre os lideres, o que não sabemos? Não sabemos quem será a terceira
ponta do novo triunvirato, e não fazemos ideia do que a corte em si planeja
fazer. Eles sabem coisas que não sabemos, e estão mais quietos que o próprio
Inverno!
— Ouvi dizer, minha aranha, que eles estão atrás de um
antigo contrato que foi usado pelo Rei de sangue anos atrás. Algo que pede um
preço muito alto. — Disse uma caranguejeira que olhava desconfiada para os
lados.
— Hum, muito bom saber, minha irmã. Também já é sabido que
esse pacto foi escondido pelo antigo rei da noite. Mas ninguém sabe quem é o
antigo rei da noite. Alias... O olhudo purpura sabe, mas não conheço quem
poderia arrancar esse segredo dele. Mas podemos deduzir que se foi do rei
nanico, a rainha de gelo vai querer por os olhos nisso.
— Ô, minha aranha, queria eu poder saber o que a rainha fria
pensa ou faz, mas aquele bichinho invisível da torre sempre nos encontra e nos
varre para fora. Quase todas nós já tentamos, e nunca funciona. Mesmo fora
daquele lugar ela desaparece, é só uma brisa fria que não conseguimos seguir. —
Disse uma aranha diminuta com patas longas quase no fim do semicírculo.
— A rainha não colocará seus dedos diretamente nisso. Temos
de descobrir se usará a irmandade de historinhas infantis, o saco de sangue e
seus soldados ou seu próprio bando de lero-lero eternos. — Ela colocou vários pontinhos
na parede, e ligou-os ao ponto que representava a rainha do Inverno. — O que nos
leva a conclusão de que, se o purpurazinho sabe quem era o rei da noite e já
deve saber que o outono e, ou, a rainha querem algo dele, ele mesmo irá tentar
pegar. O que pode muito bem ser o motivo de seus subterfúgios para esconder
suas intenções. Agora, como daremos um passo a frente de todos eles?
— Se me permite, minha aranha, estive me escondendo no
entulho do enferrujado, e minha irmã ao meu lado na lapela de um novato, cremos
que sabemos o que Helena o ordenou, mas ficamos muito desconfiadas que ele
queria que o boato corresse. — Disse uma Angelena acastanhada. — Tudo leva a
uma criatura quem chamam de Ifrit, ele pretende captura-la em nome da rainha.
— O pouco que sei sobre o mito dessa criatura me faz pensar
em ficar bem longe dela. E se não podemos, e nem queremos tomar essa tarefa
para nós, vamos simplesmente joga-la nas mãos de quem mudará totalmente o plano
de todos eles. Só para ver quão complicada essa trama pode vir a ficar. — Ela
rabiscou o quadro com varias teias aleatórias deixando tudo incompreensível. —
Vamos, minhas filhas, vamos tentar levar os novatos e desorientados para o olho
desse furacão. Depois nos dedicaremos a entender as consequências disso.
Então todas as aranhas imaginarias saíram correndo para seus buracos e
rachaduras. Algumas levando suas trouxinhas de teia, outras as deixando para
trás. Só a grande rainha velha ficou por mais um tempo, até os fios, teias
firmes e trançadas, que a moviam se tornarem visíveis e a revelarem com um
fantoche manipulado pelo titereio escondido no alicerce do telhado.
— Venha, minha bonequinha. O Maligno gostou muito do seu
trabalho hoje, Annie mesmo sem saber nos levará direto ao trono dessa cidade. —
O grande boneco de madeira se dependurou em suas próprias cordas para descer ao
chão. — Agora é só esperar os novatos enfiarem os pés pelas mãos, e se tudo der
certo, papai ainda será respingado pela merda. Nós adoramos ser eu!
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