domingo, 12 de fevereiro de 2012

Coisas sobre as quais as aranhas conversam ao tricotar

— Shhhh. Shhhh. — Fez a aranha mais velha. — Prestem atenção no que eu vou falar agora!

Todas as aranhas mais jovens ficaram caladas e se acomodaram em um semicírculo para todas poderem olhar bem para a grande aranha já fraca pela idade. Colocaram suas trouxinhas de teias no chão e arrumaram seus múltiplos pares de óculos.

— Então, aranhinhas, o que sabemos até agora, vocês se perguntam? — E a regente fez uma pausa dramática. — Sabemos que a Primavera está nos distraindo de algo com seus jogos de quem mandará na próxima estação. Sabemos que quem mandará é o velho Demônio da Beleza, o chifrudo com olhos purpuras. Sabemos que o Verão está policiando clandestinamente a cidade, e que seu avermelhado líder anda de colundria com a rainha do inverno.

— Mas, minha sabia aranha, não deveria o verão ser mais militar que espião? Não seriam os invernais numerosos e capazes de vigiar tudo o que tem de ser vigiado? — Perguntou uma aranha novata e curiosa.


— Claro, claro, jovenzinha. — E a aranha velha sorriu compreensiva. — Mas o verão quer muito mostrar serviço, precisam parecer fortes, organizados, eficientes e presentes. A imagem para eles é tudo no momento, ou durante a primavera se tornarão ainda mais fragmentados e desfalcados. Lembrem-se das primaveras anteriores e de como suas brigas e vociferações espantaram os novatos. O machucado líder parece mais sensato, e levou muito tempo até por juízo nos seus soldados. — Ela traçou um quadro na parede com suas teias, e marcou três pontos para representar os três lideres que já havia citado. — Sobre os lideres, o que não sabemos? Não sabemos quem será a terceira ponta do novo triunvirato, e não fazemos ideia do que a corte em si planeja fazer. Eles sabem coisas que não sabemos, e estão mais quietos que o próprio Inverno!

— Ouvi dizer, minha aranha, que eles estão atrás de um antigo contrato que foi usado pelo Rei de sangue anos atrás. Algo que pede um preço muito alto. — Disse uma caranguejeira que olhava desconfiada para os lados.

— Hum, muito bom saber, minha irmã. Também já é sabido que esse pacto foi escondido pelo antigo rei da noite. Mas ninguém sabe quem é o antigo rei da noite. Alias... O olhudo purpura sabe, mas não conheço quem poderia arrancar esse segredo dele. Mas podemos deduzir que se foi do rei nanico, a rainha de gelo vai querer por os olhos nisso.

— Ô, minha aranha, queria eu poder saber o que a rainha fria pensa ou faz, mas aquele bichinho invisível da torre sempre nos encontra e nos varre para fora. Quase todas nós já tentamos, e nunca funciona. Mesmo fora daquele lugar ela desaparece, é só uma brisa fria que não conseguimos seguir. — Disse uma aranha diminuta com patas longas quase no fim do semicírculo.

— A rainha não colocará seus dedos diretamente nisso. Temos de descobrir se usará a irmandade de historinhas infantis, o saco de sangue e seus soldados ou seu próprio bando de lero-lero eternos. — Ela colocou vários pontinhos na parede, e ligou-os ao ponto que representava a rainha do Inverno. — O que nos leva a conclusão de que, se o purpurazinho sabe quem era o rei da noite e já deve saber que o outono e, ou, a rainha querem algo dele, ele mesmo irá tentar pegar. O que pode muito bem ser o motivo de seus subterfúgios para esconder suas intenções. Agora, como daremos um passo a frente de todos eles?

— Se me permite, minha aranha, estive me escondendo no entulho do enferrujado, e minha irmã ao meu lado na lapela de um novato, cremos que sabemos o que Helena o ordenou, mas ficamos muito desconfiadas que ele queria que o boato corresse. — Disse uma Angelena acastanhada. — Tudo leva a uma criatura quem chamam de Ifrit, ele pretende captura-la em nome da rainha.

— O pouco que sei sobre o mito dessa criatura me faz pensar em ficar bem longe dela. E se não podemos, e nem queremos tomar essa tarefa para nós, vamos simplesmente joga-la nas mãos de quem mudará totalmente o plano de todos eles. Só para ver quão complicada essa trama pode vir a ficar. — Ela rabiscou o quadro com varias teias aleatórias deixando tudo incompreensível. — Vamos, minhas filhas, vamos tentar levar os novatos e desorientados para o olho desse furacão. Depois nos dedicaremos a entender as consequências disso.

Então todas as aranhas imaginarias saíram correndo para seus buracos e rachaduras. Algumas levando suas trouxinhas de teia, outras as deixando para trás. Só a grande rainha velha ficou por mais um tempo, até os fios, teias firmes e trançadas, que a moviam se tornarem visíveis e a revelarem com um fantoche manipulado pelo titereio escondido no alicerce do telhado.

— Venha, minha bonequinha. O Maligno gostou muito do seu trabalho hoje, Annie mesmo sem saber nos levará direto ao trono dessa cidade. — O grande boneco de madeira se dependurou em suas próprias cordas para descer ao chão. — Agora é só esperar os novatos enfiarem os pés pelas mãos, e se tudo der certo, papai ainda será respingado pela merda. Nós adoramos ser eu!

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