— Hum... Adiantados eu diria. Mesmo de acordo com toda essa
cena que Helena decidiu fazer, nós dois já sabemos que um é meu e outro seu. — Respondeu
o líder da primavera. — Venha, vamos para a sala dos cavalheiros fumar um bom
charuto e conspirar a favor do sol.
— Estranho ouvir isso de um antigo partidário insular.
Christopher, você está armando algo grande debaixo desses seus cornos, não é? —
Du seguiu o outro até a sala, mesmo não ficando realmente a vontade lá. — E eu
não fumo, obrigado.
— Eu sempre estou ‘armando’ algo, Sangrento, sempre. E não
se gabe de ser capaz de perceber isso, eu não me escondo. — Christopher
sentou-se e escolheu um charuto da caixa ao lado da grande poltrona de coro.
Sorriu com o canto da boca e deixou os vórtexis de seus globos oculares
demonstrarem alguma simpatia. — Não me diga que você não está?
— Não, não estou. Nem posso me dar a esse luxo nas atuais
circunstâncias. Minha corte precisa de pessoal, para o bem de todos nós. — Ele
sentou-se na outra poltrona, e não se interessou nem mesmo pela bebida que descansava
ali. — O vermelho parece ser um bom guerreiro. Afoito demais pela luta, mas com
certeza será valioso em qualquer ataque iminente que venhamos a receber.
— Eu diria para não dizer isso em voz alta aqui, mas agora é
tarde. — Christopher olhos purpura se serviu de uma grande dose de whisky,
bebericou e voltou a sorrir para seu interlocutor. — A azul nasceu para a
primavera, mas tentarei incentiva-la a se simpatizar por suas causas. A
primavera está chegando e logo muitos perdidos romperão a sebe. Imagino-a como
uma boa anfitriã, e não a reprovarei se conseguir alguns bons soldados para
você.
— Meu povo não é formado por soldados, Purpura. São perdidos
como você e eu. — Eduardo Sangrento voltou a levantar-se, inquieto, e se
aproximou da lareira. — Não teme que eles sejam legalistas ou coisa assim?
Lidam bem demais com a fuga. Parecem muito lúcidos.
— Achei que as ‘circunstancias’ de sua corte não permitiam
espaço para a paranoia desmedida, Du. Eu vi os desejos deles, os rápidos e os
demorados. Não creio que sejam tão poderosos a ponto de esconderem as vontades
de um legalista de mim. — Um grande gole alcoólico e uma boa tragada de tabaco.
— Mas deveria sim, se preocupar com o seu filhote, suas aspirações são
tremendas, e não o vejo como um pacifista da autodefesa igual a você.
— Eu não sou pacifista! — Abaixou-se diante do fogo e ergueu
as mãos para aproveitar melhor o calor familiar.
— Eu queria ver a cara do Solar se te ouvisse dizer isso.
Aquele sim era um líder para o verão.
— Isso foi golpe baixo, Purpura. — Levantou-se e dirigiu-se
para a porta. — Como você já voltou para seus espinhos tradicionais, acho que
essa conversa já acabou.
— Deve ter acabado. Não vou mais tomar seu tempo, deve estar
muito ansioso para preparar o juramento suicida para o vermelho. Não se cansa
de ver os seus morrerem?
— Tenho certeza que não sou o primeiro a dizer que é melhor
morrer com honra do que viver como um covarde. — Disse já segurando a porta
para fecha-la. — Pense bem se deixará a Azul se aproximar tanto assim do verão,
ela pode acabar gostando mais da nossa sinceridade do que da sua.
A porta fechou, deixando cada um com seus pensamentos.
Pensamentos altos demais para as paredes do torre de gelo do inverno onde
estavam.
Gostei bastante, mesmo não tendo muita coisa nele. Acho que as referências ao Vermelho e a Azul foram o toque especial, com as impressões deles. Sempre fui fã disso. Aguardo mais contos assim, sempre são legais.
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