sábado, 4 de fevereiro de 2012

Vermelho e Azul

— Então, o que achou dos recrutas? — Perguntou o líder da corte do verão.

— Hum... Adiantados eu diria. Mesmo de acordo com toda essa cena que Helena decidiu fazer, nós dois já sabemos que um é meu e outro seu. — Respondeu o líder da primavera. — Venha, vamos para a sala dos cavalheiros fumar um bom charuto e conspirar a favor do sol.

— Estranho ouvir isso de um antigo partidário insular. Christopher, você está armando algo grande debaixo desses seus cornos, não é? — Du seguiu o outro até a sala, mesmo não ficando realmente a vontade lá. — E eu não fumo, obrigado.

— Eu sempre estou ‘armando’ algo, Sangrento, sempre. E não se gabe de ser capaz de perceber isso, eu não me escondo. — Christopher sentou-se e escolheu um charuto da caixa ao lado da grande poltrona de coro. Sorriu com o canto da boca e deixou os vórtexis de seus globos oculares demonstrarem alguma simpatia. — Não me diga que você não está?

— Não, não estou. Nem posso me dar a esse luxo nas atuais circunstâncias. Minha corte precisa de pessoal, para o bem de todos nós. — Ele sentou-se na outra poltrona, e não se interessou nem mesmo pela bebida que descansava ali. — O vermelho parece ser um bom guerreiro. Afoito demais pela luta, mas com certeza será valioso em qualquer ataque iminente que venhamos a receber.

— Eu diria para não dizer isso em voz alta aqui, mas agora é tarde. — Christopher olhos purpura se serviu de uma grande dose de whisky, bebericou e voltou a sorrir para seu interlocutor. — A azul nasceu para a primavera, mas tentarei incentiva-la a se simpatizar por suas causas. A primavera está chegando e logo muitos perdidos romperão a sebe. Imagino-a como uma boa anfitriã, e não a reprovarei se conseguir alguns bons soldados para você.

— Meu povo não é formado por soldados, Purpura. São perdidos como você e eu. — Eduardo Sangrento voltou a levantar-se, inquieto, e se aproximou da lareira. — Não teme que eles sejam legalistas ou coisa assim? Lidam bem demais com a fuga. Parecem muito lúcidos.

— Achei que as ‘circunstancias’ de sua corte não permitiam espaço para a paranoia desmedida, Du. Eu vi os desejos deles, os rápidos e os demorados. Não creio que sejam tão poderosos a ponto de esconderem as vontades de um legalista de mim. — Um grande gole alcoólico e uma boa tragada de tabaco. — Mas deveria sim, se preocupar com o seu filhote, suas aspirações são tremendas, e não o vejo como um pacifista da autodefesa igual a você.

— Eu não sou pacifista! — Abaixou-se diante do fogo e ergueu as mãos para aproveitar melhor o calor familiar.

— Eu queria ver a cara do Solar se te ouvisse dizer isso. Aquele sim era um líder para o verão.

— Isso foi golpe baixo, Purpura. — Levantou-se e dirigiu-se para a porta. — Como você já voltou para seus espinhos tradicionais, acho que essa conversa já acabou.

— Deve ter acabado. Não vou mais tomar seu tempo, deve estar muito ansioso para preparar o juramento suicida para o vermelho. Não se cansa de ver os seus morrerem?

— Tenho certeza que não sou o primeiro a dizer que é melhor morrer com honra do que viver como um covarde. — Disse já segurando a porta para fecha-la. — Pense bem se deixará a Azul se aproximar tanto assim do verão, ela pode acabar gostando mais da nossa sinceridade do que da sua.

A porta fechou, deixando cada um com seus pensamentos. Pensamentos altos demais para as paredes do torre de gelo do inverno onde estavam.

Um comentário:

  1. Gostei bastante, mesmo não tendo muita coisa nele. Acho que as referências ao Vermelho e a Azul foram o toque especial, com as impressões deles. Sempre fui fã disso. Aguardo mais contos assim, sempre são legais.

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