— Humm. Não sei se
sou quem deve preocupar-se com isso. — Disse o homenzinho enquanto enxugava
canecas de cerveja mágica. — Acredito
que existam outros reis e rainhas nesse lugar que sejam capazes de lidar com o
que está por vir.
O Flautista deu um longo gole em sua taça de vinho azul.
Bebida que só podia ser encontrada ali e que se acreditava ser feita de frutas
da sebe. Frutas Goblin, como costumavam dizer, e ele pensava sobre o fato do
pequenino nunca deixar o bar e assim como tais frutas chegavam as habilidosas
mãos dele.
— Você nunca vai
contar pra ninguém o que foi que você fez exatamente, não é? Nem pra rainha do
inverno?
— Não, não vou contar
pra ninguém, Adam. Não vi ou ouvi falar de ninguém por aqui com o espirito necessário
para arriscar algo como aquilo. — Ele enxugou o balcão, verificando se ninguém
mais no bar estava prestando atenção naquela conversa. — Vocês já escolheram um novo rei da Primavera?
— Não, tudo começará
hoje à noite. Todos aqueles atos de teatro para simular algum tipo estranho de democracia.
E não me desconverse, tampinha! Posso ver suas preocupações sobre o fim dos
efeitos do seu grande heroísmo. — Bebeu o resto do vinho e se sentiu misticamente
feliz sob o efeito daquilo. — Você pode
não contar nada, eu te entendo, mas se não for eu ou a Cachinhos a descobrir do
que se trata, Branca e Gepeto o farão.
— Os dois novatos
estiveram aqui um dia desses, cheios de perguntas e interesses. Não quero
subestimar o seu bando, mas, acho que se eles continuarem assim e conseguirem
os amigos certos, logo, logo vão ter tanta influência e recursos quanto vocês.
— Serviu uma nova dose do vinho azul. —
Uma visão nova sem predefinições pode revelar as coisas obvias que vocês não
enxergam mais.
— Sem predefinições?
Até onde ouvi falar os changelings com quem eles mais tem falado são o
Sangrento, o Purpura e o Ferrugem. Nada bom me parece capaz de sair desse tipo
de influência. — Adam tirou a flauta da cintura, usava-a ali como uma arma
no coldre. Colocou-a sobre a mesa para que o taverneiro a visse. — Ela já está começando a desafinar, Tic.
A chegada daqueles dois não são os únicos sinais de que algo muito errado vem
acontecendo. Branca disse que Helena começou a procurar desesperadamente por
coisas, lugares e perdidos desde que soube da fuga durante o inverno. Seja lá
com o que exatamente ela está preocupada que ressurja desse passado misterioso
de vocês, ela parece querer fazer alguma coisa a respeito durante essa estação.
O Antigo rei, o taverneiro, o cervejeiro, o pequeno capaz, o
rei solar, o Trickster, O rei de sangue, ou simplesmente: Tic; virou-se para
conferir as torneiras dos grandes galões de bebida artesanais. Na verdade
tentava apenas esconder suas expressões a respeito de Helena e os riscos que
estava disposta a correr. Sempre se ouvia a respeito desse tal amor entre os
dois, mas Adam ao menos não conseguia imaginar o que os impediria de concretiza-lo
nos dias correntes.
— Você não falou nada
sobre o Lobo Mau, faz algum tempo que não aparece por aqui. Tudo bem com ele?
– O cervejeiro tentava desconversar de novo, gostaria que seu entrevistador não
fosse um belíssimo com tanto tato social. —
Espero que não tenha encontrado o fim típico dos veranistas.
— Pode ficar
tranquilo, tá tudo bem com ele. Só muito ocupado sendo um membro valioso da
sociedade. — Adam guardou a flauta novamente. — Sabia que essa flauta foi feita pelo Enferrujado? As vezes me
pergunto por quê não a substitui por uma feito pelo Gepeto. — Arrastou para
perto uma vasilha de castanhas de uma fruta que também não era mundana. — Falando nele, parece que atualmente é o
braço direito de Helena. O que faz pensar no interessa que ela possa ter nos
novatos... — Deixara a frase no ar, esperando alguma reação atípica do
Trickster.
— Nunca fui próximo de
Gregory Ferrugem. Na minha época estávamos em cortes distintas. — Virou-se
e colocou a ‘conta’ diante do Flautista. —
Tenho certeza que Helena tem bons motivos para confiar nele. E já é hora de
você ir, imagino que Branca tenha mais coisas para você fazer além de incomodar
um velho cervejeiro.
— Claro, não vou mais
incomodar. É melhor mesmo. — Verificou o papel e deixou cinco pedrinhas
coloridas sobre o balcão com um sorriso satisfeito nos lábios. — Agradeço sua atenção. E mandarei
lembranças a toda Irmandade. — Engoliu o resto da segunda taça de vinho e
levantou-se ajeitando a flauta na cintura.
— Passar bem, Adam, o
Flautista de Hamelin. Passar bem! — Ele recolheu e guardou as pedrinhas
onde pudesse vê-las. Pegou a taça e foi lava-la e enxuga-la. Estava preocupado,
muito preocupado com as consequências da chegada de perdidos durante o inverno.
Do lado de fora o Flautista retornou as ligações perdidas
dos membros de seu bando. Conversou com Branca de Neve sobre sua conversa com o
pequenino e em seguida ouviu de Lobo Mau o que ele espera que fosse feito sobre
outros assuntos.
— FBI? Parece
divertido, Lobo, vou tocar uma canção para eles sim.
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