quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O Antigo Rei Solar

— Então, Tic, chegaram dois perdidos durante o inverno. Já ponderou sobre o que isso significa? — Sentado no bar do Elísio, o Flautista questionava o dono do lugar.


— Humm. Não sei se sou quem deve preocupar-se com isso. — Disse o homenzinho enquanto enxugava canecas de cerveja mágica. — Acredito que existam outros reis e rainhas nesse lugar que sejam capazes de lidar com o que está por vir.

O Flautista deu um longo gole em sua taça de vinho azul. Bebida que só podia ser encontrada ali e que se acreditava ser feita de frutas da sebe. Frutas Goblin, como costumavam dizer, e ele pensava sobre o fato do pequenino nunca deixar o bar e assim como tais frutas chegavam as habilidosas mãos dele.

— Você nunca vai contar pra ninguém o que foi que você fez exatamente, não é? Nem pra rainha do inverno?


— Não, não vou contar pra ninguém, Adam. Não vi ou ouvi falar de ninguém por aqui com o espirito necessário para arriscar algo como aquilo. — Ele enxugou o balcão, verificando se ninguém mais no bar estava prestando atenção naquela conversa. — Vocês já escolheram um novo rei da Primavera?

— Não, tudo começará hoje à noite. Todos aqueles atos de teatro para simular algum tipo estranho de democracia. E não me desconverse, tampinha! Posso ver suas preocupações sobre o fim dos efeitos do seu grande heroísmo. — Bebeu o resto do vinho e se sentiu misticamente feliz sob o efeito daquilo. — Você pode não contar nada, eu te entendo, mas se não for eu ou a Cachinhos a descobrir do que se trata, Branca e Gepeto o farão.

— Os dois novatos estiveram aqui um dia desses, cheios de perguntas e interesses. Não quero subestimar o seu bando, mas, acho que se eles continuarem assim e conseguirem os amigos certos, logo, logo vão ter tanta influência e recursos quanto vocês. — Serviu uma nova dose do vinho azul. — Uma visão nova sem predefinições pode revelar as coisas obvias que vocês não enxergam mais.

— Sem predefinições? Até onde ouvi falar os changelings com quem eles mais tem falado são o Sangrento, o Purpura e o Ferrugem. Nada bom me parece capaz de sair desse tipo de influência. — Adam tirou a flauta da cintura, usava-a ali como uma arma no coldre. Colocou-a sobre a mesa para que o taverneiro a visse. — Ela já está começando a desafinar, Tic. A chegada daqueles dois não são os únicos sinais de que algo muito errado vem acontecendo. Branca disse que Helena começou a procurar desesperadamente por coisas, lugares e perdidos desde que soube da fuga durante o inverno. Seja lá com o que exatamente ela está preocupada que ressurja desse passado misterioso de vocês, ela parece querer fazer alguma coisa a respeito durante essa estação.

O Antigo rei, o taverneiro, o cervejeiro, o pequeno capaz, o rei solar, o Trickster, O rei de sangue, ou simplesmente: Tic; virou-se para conferir as torneiras dos grandes galões de bebida artesanais. Na verdade tentava apenas esconder suas expressões a respeito de Helena e os riscos que estava disposta a correr. Sempre se ouvia a respeito desse tal amor entre os dois, mas Adam ao menos não conseguia imaginar o que os impediria de concretiza-lo nos dias correntes.

— Você não falou nada sobre o Lobo Mau, faz algum tempo que não aparece por aqui. Tudo bem com ele? – O cervejeiro tentava desconversar de novo, gostaria que seu entrevistador não fosse um belíssimo com tanto tato social. — Espero que não tenha encontrado o fim típico dos veranistas.

— Pode ficar tranquilo, tá tudo bem com ele. Só muito ocupado sendo um membro valioso da sociedade. — Adam guardou a flauta novamente. — Sabia que essa flauta foi feita pelo Enferrujado? As vezes me pergunto por quê não a substitui por uma feito pelo Gepeto. — Arrastou para perto uma vasilha de castanhas de uma fruta que também não era mundana. — Falando nele, parece que atualmente é o braço direito de Helena. O que faz pensar no interessa que ela possa ter nos novatos... — Deixara a frase no ar, esperando alguma reação atípica do Trickster.

— Nunca fui próximo de Gregory Ferrugem. Na minha época estávamos em cortes distintas. — Virou-se e colocou a ‘conta’ diante do Flautista. — Tenho certeza que Helena tem bons motivos para confiar nele. E já é hora de você ir, imagino que Branca tenha mais coisas para você fazer além de incomodar um velho cervejeiro.

— Claro, não vou mais incomodar. É melhor mesmo. — Verificou o papel e deixou cinco pedrinhas coloridas sobre o balcão com um sorriso satisfeito nos lábios. — Agradeço sua atenção. E mandarei lembranças a toda Irmandade. — Engoliu o resto da segunda taça de vinho e levantou-se ajeitando a flauta na cintura.

— Passar bem, Adam, o Flautista de Hamelin. Passar bem! — Ele recolheu e guardou as pedrinhas onde pudesse vê-las. Pegou a taça e foi lava-la e enxuga-la. Estava preocupado, muito preocupado com as consequências da chegada de perdidos durante o inverno.

Do lado de fora o Flautista retornou as ligações perdidas dos membros de seu bando. Conversou com Branca de Neve sobre sua conversa com o pequenino e em seguida ouviu de Lobo Mau o que ele espera que fosse feito sobre outros assuntos.

— FBI? Parece divertido, Lobo, vou tocar uma canção para eles sim.

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