sexta-feira, 30 de março de 2012

A fera (2011)

Filme.
Título original: Beastly.
Gênero: Romance.

"Casal à parte, o que há de mais interessante em A Fera é o retrato de um momento em que a aparência é mais valorizada do que o conteúdo. Não se trata de mera desculpa encampada para justificar a adaptação, mas algo que se vê a todo instante nos meios de comunicação. Em plena era dos reality shows, a frase “gente bonita é que se dá bem” soa convincente. Os aplausos logo após o absurdo discurso de Kyle (Pettyfer), personificando a arrogância da ditadura da estética, refletem o público em geral, que consome produtos do tipo. Tudo atualíssimo e encaixado com a história de A Bela e a Fera".  -- Francisco Russo

Sinopse: Kyle (Alex Pettyfer) era um jovem bem sucedido e cobiçado pelas mulheres, que defendia que a aparência era tudo. Um dia, ao tentar humilhar Kendra (Mary-Kate Olsen), ela lhe lança um feitiço que o deixa com o rosto desfigurado. Envergonhado com o visual, ele se esconde e passa a viver isolado em um apartamento comprado pelo pai, tendo a companhia de sua empregada Zola (Lisa Gay Hamilton) e Will (Neil Patrick Harris), um professor cego contratado para lhe dar aulas particulares. A maldição tem o prazo de um ano, sendo que caso Kyle consiga fazer com que uma mulher consiga amá-lo pelo que ele é, não por sua aparência, ela será desfeita. Desiludido, Kyle volta a ter esperanças quando se aproxima de Lindy (Vanessa Hudgens), uma colega de colégio bem diferente das mulheres com quem conviveu até então.


__________ Elementos para o jogo, pode conter spoilers.

Opinião sobre o filme: Se não fosse pelo olhar 'isso serve para Changeling' eu provavelmente teria classificado o filme como ruim. Ele realmente se apega a carisma dos atores adolescentes em ascensão nos EUA, e cai em diversos momentos para o romancinho modelo crepúsculo. Mas aos fãs de 'A bela e afera', clássico infantil do qual esse filme faz a releitura moderna (o que não é nenhuma novidade no cinema), vão poder se divertir localizando os elementos em comum com a animação. E é claro que o ator Neil Patrick Harris (O Barney de How i met your mother) salva a escapadela bem humorada da coisa toda. Para o filme se salvar precisava só de um final trágico, como a "bela" morrendo por u tiro do traficante ou coisa assim.

Elementos de RPG: Obviamente nós temos a magia, que aparece em um contexto contemporâneo e bem moderno. A bruxa da vez favorece alguns elementos do Mundos das Trevas, ela se mistura a multidão e respeita as complexidades e limites da magia. O filme não dá muita atenção a ela, deixando-a no espaço que a magia normalmente tem de ocupar mesmo, misteriosa e desconhecida. Para o jogo de Changeling em si, o que mais me atraiu foi a história de certa forma se apresentar pelo ponto de vista da "fera", alguém que é arrancado de sua vida anterior, "não é reconhecido" por sua família, tem sua aparência drasticamente modificada e precisa lutar para se reencaixar na sua antiga vida, ou reconquistar pessoas daquela época através de uma nova identidade. Visualmente o filme trás alguma inspiração também para o uso dos espinhos da sebe nas tatuagens, das flores que podem ser tratadas como frutas goblins, e até mesmo da passagem das estações apresentada pela tatuagem da árvore na mão da "fera". Por último penso sobre as promessas, com alguns ajustes, a 'maldição' lançada pela bruxa pode se encaixar em uma, assim como o 'acordo' para libertar os empregados da 'fera' de seus próprios sofrimentos. Analisar esses empregados como seres humanos encantados também é valido, a relação de um Changeling com os mortais pode muito bem caminhar para aquele lado.

Uma inspiração mais imaginativa, apesar de um tanto obvia, que o filme me levou foi a relação de um Changeling que tinha alguém muito próximo em sua vida pregressa com deficiência visual. E apesar da mascarilha ser capaz de iludir todos os outros sentidos, um jogo de reconhecimento e dúvidas baseado até na ampliação dos outros sentidos que os cegos tendem a desenvolver é um prato cheio para o drama e o horror pessoal. Principalmente colocando um duplo na jogada e tais sentidos denunciando-os levemente. Vale a pena pensar no assunto.

Por fim, para quem viu o filme e ficou curioso sobre a poesia "Uma coca-cola com você", que me conquistou pelo título, segue-a na integra:

Uma Coca-cola com Você
É ainda melhor que uma viagem a San Sebastian, Irun, Hendaye, Biarritz, Bayonne ou que ficar enjoado na Travessera de Gracia em Barcelona.
Em parte porque nessa camisa laranja você parece um São Sebastião melhor e mais feliz.
Em parte porque eu gosto tanto de você.
Em parte porque você gosta tanto de iogurte.
Em parte por causa das tulipas laranja fluorescente contra a casca branca das árvores.
Em parte pelo segredo que nos vem ao sorriso perto de gente e da estatuária.
É difícil quando estou com você acreditar que existe alguma coisa tão parada,  tão solene, tão desagradável e definitiva como estatuária quando bem na frente delas.
Na luz quente de Nova York às quatro da tarde nós estamos indo e vindo de um lado para o outro como a árvore respirando pelos olhos de seus nós e a exposição de retratos parece não ter nenhum rosto, só tinta.
De repente você se surpreende que alguém tenha se dado ao trabalho de pintá-los.
Olho pra você e prefiro de longe olhar para você do que para todos os retratos do mundo.
Exceto talvez às vezes o Cavaleiro Polonês que de qualquer maneira está no Frick aonde graças a Deus você nunca foi de modo que eu posso ir junto com você a primeira vez.
E isso de você se mover tão bonito mais ou menos dá conta do Futurismo,  assim como em casa nunca penso no Nu Descendo a Escada ou num ensaio em algum desenho de Leonardo ou Michelangelo que costumava me deslumbrar e o que adianta aos Impressionistas tanta pesquisa quando eles nunca encontraram a pessoa certa para ficar perto de uma árvore quando o sol baixava ou por sinal Marino Marini que não escolheu o cavaleiro tão bem quanto o cavalo.
Acho que eles todos deixaram de ter uma experiência maravilhosa que eu não vou desperdiçar.
Por isso estou te contando.  -- Frank O'Hara

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